Polímero sintético detecta tumores na mama

Técnica desenvolvida por mastologista de Juiz de Fora (MG) se mostra eficaz na localização de nódulos na mama e na segurança da retirada do tecido lesionado. Material não apresenta riscos, como o iodo, garante médico.


Um polímero sintético extraído de silício, desenvolvido pelo mastologista Geraldo Vitral, de Juiz de Fora (MG), tornou mais segura e eficaz a retirada de minúsculos tumores na mama, suspeitos de serem malignos. A substância, que integra um kit composto por polímero, agulha e seringa, será comercializada este ano por empresas de Manaus (AM) e São Paulo (SP). Elas adquiriram a patente do produto, batizado de BLD Marker (sigla em inglês que significa marcador da lesão mamária). “O polímero proporciona maior precisão cirúrgica que o contraste iodado radiológico”, conta Vitral.

O iodo, usado atualmente, é inserido na região do tecido da lesão suspeita por meio da técnica Roll (sigla em inglês para localização radioguiada de lesões ocultas), desenvolvido pelo Instituto Europeu de Oncologia, em 1996. O procedimento permite a marcação de lesões mamárias não detectáveis por palpação durante o procedimento cirúrgico, com o uso de ultrassonografias ou mamografias. No entanto, por utilizar o contraste iodado, a técnica apresenta dois problemas: risco de reações alérgicas, além de grande e rápida dispersão tecidual desse meio de contraste. “Ela não funciona adequadamente”, salienta o mastologista.

Já o polímero sintético polidimetilsiloxano (PDMS), que usará o mesmo método para ser injetado na mama, não apresenta qualquer restrição à sua aplicação em nenhum tipo de paciente. De acordo com Vitral, o polímero não provoca prejuízo à saúde de grávidas, lactantes, diabéticos ou pessoas com alguma doença coexistente. O PDMS é biologicamente inerte, ou seja, não provoca reações adversas ou alergias, inclusive o choque anafilático. A substância permanece em contato com o corpo do paciente por um curto espaço de tempo — cerca de três horas. Ela não é absorvida pelo organismo e é retirada juntamente com a lesão.

“Enquanto as chances de erro na identificação dos tumores variam entre 5% e 10% com a aplicação do composto iodado, até o momento não foi identificada, com os testes realizados, nenhuma situação de falha com o uso do PDMS”, relata o médico. Segundo ele, o polidimetilsiloxano é uma substância estável, podendo ser armazenada por tempo indeterminado. Resiste, ainda, a condições extremas de temperatura, o que permite sua estocagem em qualquer ambiente, desde que em condições de higiene adequadas de armazenagem de produtos farmacológicos.

Mais benefícios
Outras vantagens do PMDS são a abordagem cirúrgica individualizada e orientada matematicamente, resultando em menor quantidade de tecido mamário extirpado na cirurgia, diminuição do número de reintervenções por falha cirúrgica, redução do risco de contaminação radioativa da pele e diminuição dos custos do procedimento. Um estudo de viabilidade econômica do BLD Marker, feito em 2008, revelou que, apesar dos vários benefícios, o kit, estéril e descartável, tem custo muito menor que o do kit do composto iodado.

“O diagnóstico precoce é uma das principais armas para combater o câncer de mama”, salienta o mastologista. Os estudos para o desenvolvimento do PDMS duraram quatro anos, tempo da tese de doutorado de Vitral, que foi orientada pela professora de farmácia e bioquímica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Nádia Raposo. A pesquisa também contou com o apoio da Faculdade de Medicina da UFJF. Já a Faculdade de Economia e Administração fez as análises de viabilidade comercial, econômica e financeira do produto, além de impacto ambiental e social.

O repasse da tecnologia do PDMS para a iniciativa privada foi feito pelo Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt/UFJF). A Universidade Federal de Juiz de Fora receberá royalties sobre a comercialização do produto. O BLD Marker aguarda o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde março. A pesquisa de Vitral foi apresentada em congressos e publicada, em 2008, na Revista Brasileira de Mastologia. Além de receber prêmios internacionais, o estudo foi o único brasileiro selecionado para o 11° Congresso de Câncer de Mama de Milão, na Itália, no ano passado. 
 

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