As cidades perdidas da Amazônia III


A pesquisa arqueológica em várias áreas ao longo do rio Amazonas, como a ilha do Marajó na foz do rio e sítios próximos às modernas cidades de Santarém e Manaus, confirma esses relatos. Essas tribos interagiam em sistemas de comércio que se espalhavam até localidades remotas. Sabe se menos das localidades mais próximas dos limites ao sul da Amazônia, mas um trabalho recente em Llanos de Mojos nas várzeas da Bolívia e no estado do Acre sugere que eles também apresentaram sociedades complexas. Em 1720, o guarda de fronteira Antonio Pires de Campos descreveu uma paisagem densamente habitada na cabeceira do rio Tapajós, pouco a oeste de Xingu:

Esses povos existem em um número tão enorme que não é possível contar seus povoados ou aldeias, [e] muitas vezes em um dia de marcha passa-se por 10 a 12 aldeias, e em cada uma há de 10 a 30 habitações, e dentre essas casas há algumas que medem 30 ou 40 passos de largura... até mesmo suas ruas, que eles fazem bem retas e largas são mantidas tão limpas que não se encontra nenhuma folha caída...

Uma Antiga Cidade Murada
Quando me aventurei no Brasil, no início da década de 90, para estudar a profunda história do Xingu, as cidades perdidas nem sequer passavam pela minha mente. Eu lera Steinen, mas mal ouvira falar de Fawcett. Embora muito da vasta bacia amazônica fosse terra arqueológica desconhecida, não era provável que os etnógrafos, muito menos os xinguanos, tivessem ignorado um enorme centro monolítico se erguendo sobre as florestas tropicais.

No entanto, resquícios de algo mais elaborado que as aldeias ainda hoje existentes estavam em toda a parte. Robert Carneiro, do American Museum of Natural History, de Nova York, que morou com os cuicuro na década de 50, sugeriu que o estilo de vida organizado e a economia produtiva agrícola e pesqueira poderiam suprir comunidades muito mais substanciais, mil a 2 mil vezes maiores – várias vezes a população contemporânea de algumas centenas. Ele também registrou evidências de que, na realidade, a área já teve um sítio pré-histórico (designado X11 em nossa pesquisa arqueológica) cercado de imensos fossos. Os irmãos Villas Boas – indianistas brasileiros indicados para o Prêmio Nobel da Paz pela sua participação na criação do Parque do Xingu – já tinham relatado esses trabalhos no solo perto de muitas aldeias.


Fonte: Scientific American Brasil Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário